Aluizo
e Merença
Em um parquinho chamado Araruama
conheceram-se os dois ratinhos. Faziam presença pelo parquinho correndo entres dálias
e crisântemos; magnólias e rosas; cravos e cravinhos. Desde pequenos já corriam
por ruas e valas do parquinho, crescendo e aprendendo com atitudes suspeitas, como
dois ratinhos, e bem safadinhos.
Com um cravo roubado na
praça e preso na lapela, foi com Merença se casar. Com um lenço e pregadores na
cabeça vindo do varal alheio, emprestados e não devolvidos, ela resolveu
aceitar. Montaram sua casinha com o faqueiro e a faiança da vizinha. Perderam a
confiança da vovó e da vovozinha. Tiveram filhos e filhas, inhas e inhos.
Evoluíram e construíram uma
boa casa em uma baixada. Com gatos na luz e na água puderam ter uma piscina.
Muxibenta e com um sutiã rasgado ela tomava banho e caldo na piscina. Enquanto
ele ia tomar cachaça e fofocar no bar da esquina. Nobres e cultos que eram,
ficavam e estavam bem informados com as noticias do Brasil e do mundo. Todos os
dias e todas as semanas, com jornais e revistas de assinantes, surrupiados de
vizinhos. Com TVs a gato e Gato Net
tinham acessos a mídias televisivas.
Aluizo teve uma infância vigiada
e controlada. Vestido de camisola ficava em casa preso para não fugir. Como um ratinho
bonitinho e santinho, preso e correndo em seus brinquedos de gaiola, vestido
com uma camisola da irmãzinha, a tia chester.
Aluizo e Merença eram uns
promissores, um casal de roedores. Roedores que reviravam casas na ausência de seus
moradores. Mexiam desde as geladeiras e armários procurando guloseimas para
comer avidamente, mexiam em armários e estantes procurando estratégias e estratagemas.
Estratagemas que pudessem sair cantando,
espalhando entre as flores do parquinho. Cantando e fofocando pelas ruas como canta
o bem-te-vi.
Seguiram o exemplo de sua
mãe e seu pai. Tornaram-se dona de casa e navegador, exímios fofoqueiros e
vigiadores da vida alheia. Corriam para lá e para cá em um barquinho pelas águas
da Guanabara, em barquinho a motor. E com um Gordini velho no parquinho se dizia
senador, tomando aguardente velha e cerveja quente no barzinho bem retrô.
Desde pequenininha Merença
frequentava o parquinho, para ficar em um balanço quando Aluizo aparecia para embalar.
Estavam ali pra ver e amostrar o que Merença tinha debaixo do shortinho. O
shortinho para disfarçar o que era uma sainha bem curtinha, que no balanço, ao balançar
para lá e para cá mostrava a calcinha. Calcinha suja de barro vermelho, vindo lá
de outras bandas onde nasceu.
Com seu barquinho saiam e saíam
para navegar, onde desde cedo aprenderam coisas do arco da velha com óleos de
motor. Puxando barcaças de óleo tornou-se corretor, de óleo adulterado e de óleo
barganhado, óleos não embarcados. Como dois ratinhos experientes atracavam e abandonavam
rapidamente o barquinho, ao ouvir a sirene dos barcos vigilantes.
Enquanto ela fez perfil em
rede social, ele fez perfil de quem não vale nada, usando de suas próprias palavras.
Fizeram perfil e carreira de aproveitadores de filhos. Aprendeu a consertar
maquina de lavar, desmontar e montar carros. Enquanto ela aprendeu a fazer
comida em ‘pirek’ e ‘marineck’ dos outros. Torceram ‘pro framengo’ na geral do Maracanã.
RJ 21/09/2014
Texto disponível em:
http://papagaiosdepiratas.blogspot.com.br/2014/09/aluizo-e-merenca.html
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